Certa vez levei meu filho de seis anos ao restaurante. Ele perguntou se poderia dar graças.
Quando concordei, ele disse:
- Deus é bom. Deus é maravilhoso. Obrigado pela comida. Ficarei ainda mais agradecido se mamãe me der sorvete como sobremesa. E liberdade e justiça para todos. Amém.
Junto com as risadas dos outros clientes, escutei uma mulher comentar:
- É isso que está errado com esse país: As crianças de hoje não sabem nem orar. Pedir sorvete para Deus! Eu nunca vi isso!
Escutando isso, meu filho banhou-se em lágrimas e perguntou:
- Eu fiz alguma coisa errada? Deus está zangado comigo?
Enquanto eu o abraçava, assegurava-lhe que ele havia feito uma oração maravilhosa, que Deus, com toda certeza, não estava zangado com ele.
Um cavalheiro mais idoso aproximou-se da mesa, deu uma piscada para meu filho e disse:
- Eu fiquei sabendo que Deus achou que foi uma bela oração.
- Mesmo? Perguntou meu filho.
- Dou a minha palavra.
Então, num sussurro teatral, ele acrescentou, indicando a mulher cujo comentário havia desencadeado aquelas lágrimas:
- Que pena que ela nunca tenha pedido sorvete a Deus.
Às vezes um pouco de sorvete faz bem a alma.
Naturalmente, comprei sorvete para meu filho no fim da refeição. Ele o olhou fixamente por um momento e fez algo do qual me lembrarei para o resto de minha vida: Pegou o seu sundae e, sem uma palavra, na direção da mulher e o colocou em frente a ela. Sorrindo, disse-lhe:
- Olha, este sorvete é para você! Sorvete às vezes é bom para a alma, e a minha já está bastante boa.
Afonso Hilar.
"Abomináveis são para o Senhor os pensamentos do mal, mas as palavras dos puros são aprazíveis." (Provérbios 15.26)
"Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida." ( I Timóteo 1.5)
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